Segunda-feira, 30 de Novembro de 2009
Portugal, uma característica que ganhaste (ou talvez acentuaste) é que os teus membros têm uma tremenda dificuldade em olhar para ti sem ser pelo prisma do seu interesse pessoal ou corporações onde se inserem, ou seja, perderam em altruísmo patriótico o que ganharam em egoísmo pessoal e corporativo. Não que esta mudança te seja exclusiva. Parece que este fenómeno bate à porta por onde o consumismo tem mais sucesso.Portugal, de uma forma mais geral, os teus membros, à semelhança da maioria dos membros de todos os países capitalistas, andam furiosamente atrás do ter e esqueceram-se quase todos do ser. Não pretendendo efectuar juízos de valor, digo-te somente que este status nunca dá a melhor assistência a quem precisa de mudar radicalmente de perspectivas e de vida. Quando fores convidado, perdão, obrigado, a ganhar menos ordenados / salários, a consumir menos, a poupar mais, a pagar mais impostos (não tenhas a mínima dúvida que vão subir, e bem, nos próximos 4 anos), a endividares-te menos, a descontares mais ou o mesmo para a reforma que vai ser mais pequena, a pagares de novo mais pela prestação da casa (ou ainda acreditas que os juros ficam sempre assim?), a veres-te realmente aflito para arranjares trabalho, etc, precisas do ser e não do ter para engolir toda essa avalanche adversa.
Portugal, é a tua crise específica que vais ter que resolver e não tanto aquela que anda e vai andar por aí durante mais uns anos. E é para essa que vais ter que passar do status mental ter para o ser. É assim porque o buraco onde te estás a meter (e que te já descrevi nas anteriores “fotografias” e “acordas”) te vai denunciar abertamente todas as tuas insuficiências estruturais que te impossibilitam de estar no comboio onde queres andar. Nesse momento terás uma crise existencial. Desabafarás, farás até alguns tumultos por aí, embora não muito grandes. Nessa altura, a sociedade, muito quebrada, diferenciada nos seus estilos, descrente de soluções baseadas em engenharias sociais e colectivistas, e surpreendentemente mais aberta a soluções com base em responsabilidade individual, tratará de descobrir e viabilizar saídas. Sempre existiram, e existirão, Portugueses de bem dispostos a te servir. Não duvido que darás então a mão a quem te ama e te quer servir.
Portugal, prepara-te para esses Portugueses. Vão ser diferentes daqueles a que te acostumaste (não poderá ser de outra maneira). Quando chegar o momento não seguirás o eloquente de conversa fácil e com solução cor-de-rosa. Irás seguir quem falar de ti, quem identificar o que tu és, quem queira genuinamente pensar sobre ti, quem perceba o que o mundo é, e quem souber e te disser o que tens que descobrir em ti para nele venceres. O resto é trabalho para todos os teus membros.
Portugal, a vida é assim. Tal e qual um rio, que dependendo daquilo que o envolve, corre umas vezes com suavidade e outras vezes com turbulência. Para nele bem navegares tens somente que estar preparado para as disposições que ele te impuser. Depois precisas só de te lembrar que ninguém navega por ti e de escolher bons comandantes. Boa sorte Portugal.
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