Quarta-feira, 25 de Novembro de 2009
Portugal, impuseste-te a ti próprio um paternalismo infantil. Quando fizeste a tua revolução, viste, e bem, que os teus membros, os Portugueses, tinham um défice de direitos face aos deveres impostos. Não contente com o facto resolveste tratar do assunto. Só que te faltou o sentido das proporções, e assim, algo inebriado pelas circunstâncias e muito influenciado por muita conversa fácil inverteste completamente a distribuição dos pesos na balança. Onde antes fabricavas Portugueses modestos, comedidos, trabalhadores, com fibra, desafiantes, e apreciadores de relações suaves e duradouras; agora fabricas Portugueses arrogantes, impertinentes, ociosos, moles, corporativos, e apreciadores de relações fortes e efémerasAssim, transformaste completamente os teus membros. E modificaste-os castrando-os naquilo que é natural em qualquer animal: o crescimento. Com a tua nova fórmula os Portugueses de idade adulta são nos dias de hoje ainda crianças. E como qualquer criança desproporcionalmente apaparicada vamos encontrando nos dias de hoje muita tendência para o queixume e para a impertinência. Os Portugueses agora estão sempre à espera de receber e nunca de dar, estão com pouca apetência para tomar o seu destino nas próprias mãos, perfeitamente avessos ao “no pain, no gain”. Nesta nova condição, e pela natureza das coisas, passam a ser constantemente ultrapassados pelos acontecimentos. Por estes estarem sempre em constante mutação, tal a velocidade da mudança actualmente, os Portugueses sentem-se hoje atordoados e perdidos, atulhados de dúvidas sobre o que fazer, sem tino e paralisados. Estão literalmente órfãos dos acontecimentos.
Aos Portugueses tudo agora lhes faz confusão, tudo os apoquenta, tudo o que surge é visto como um potencial perigo. Na ânsia de se protegerem até do voo de uma mosca tratam agora de legislar sobre tudo e sobre nada, tomando sempre o acessório como essencial e o essencial como o acessório. Vão multiplicando a existência de direitos ao mesmo tempo que vão subtraindo a prática de deveres. Tendencialmente vão medindo muito deficientemente as consequências dos seus actos tal a impreparação que os caracteriza. Procuram sempre ocultar os seus resultados se estes forem fracos, e mantêm a esperança na sua socialização se estes forem negativos. Tudo sintomas típicos das crianças e de espíritos mais débeis.
Os Portugueses adultos, digamos os que vão dos 30 aos 65 anos, com muita moleza da vida fácil que julgavam ser possível existir andam agora muito incomodados com a realidade. Ela é mais dura do que se pensava e há poucas almas com maturidade e fibra para tratar de tanto espírito que pouco amadureceu. Isso cria um sentimento de insegurança muito grande, o que misturado com a abundância de perfis pouco recomendáveis de muitas pessoas em lugares de destaque gera algum desnorte. Na política e no sector público faltam agora homens fortes de espírito em lugares de responsabilidade. Isso faz-nos fracos. Se à fraqueza de espírito adicionarmos a falta de integridade isso faz-nos desesperar.
A geração de Abril inicia agora uma suave e doce reforma. Partem para essa nova fase com um claro sentimento de que “safaram-se” e de que deixaram uma herança que não desejariam ter herdado. Aos poucos os seus filhos vão reparando que a fórmula dos seus progenitores já não é exequível, tão pouco recomendável. Mas foram ainda formatados nesse modelo, pelo que, ao viverem já com o triplo das dificuldades previstas mas ainda agarrados a uma esperança que não se vai realizar, talvez tenhamos os ingredientes para um tumulto inter-geracional no futuro próximo (talvez daqui a 5/7 anos). A crise internacional actual poderá precipitar esse conflito.
Portugal, tens que proceder a novas avaliações sobre direitos e deveres. Tens que compreender que não é viável construíres uma sociedade sem uma equilibrada proporção entre estes dois elementos. Tens que compreender que a posse de um é o resultado da prática do outro. Uma vida sã e justa em sociedade é regida por princípios básicos que o homem sapiente tratará de respeitar e praticar. A proporção entre direitos e deveres é um deles. Respeita este princípio e sentirás a harmonia. Viola-o e sentirás a turbulência.
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