quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Fazer contas, tomar opções e confiança

Sábado, 14 de Novembro de 2009


Esta crise que nos assola obriga-nos, em termos familiares, a comportamentos mais racionais do que aqueles a que nos tínhamos recentemente habituado. Refiro-me a “fazer contas” e “tomar opções”. Nestes últimos anos, uma grande parte da população tinha tomado estes conceitos como pertencentes a um Portugal retrógrado e inferior, e completamente dessincronizados com as atitudes mais vanguardistas e modernas.

Agora acossados pela incerteza, a abarrotar de dívidas, mais conscientes da real riqueza possuída, tementes pela falta de trabalho, os portugueses e outras populações ocidentais, sentindo que devem adoptar comportamentos consentâneos com a realidade, resolveram voltar a fazer muitas contas e consequentemente tomar opções. De braço dado com os tempos que vão correndo, mais repousados pela simbiose alcançada com o meio envolvente, as pessoas vão de novo poder planear que tipo de vida podem acorrer e com isso vão ganhar novos níveis de confiança. É a confiança que deriva do sentimento que os terrenos por onde se movem estarem de acordo com as possibilidades, e que estas são o fruto da análise individual face à nova realidade.

Este processo, a que se pode chamar “ajustamento”, demora por vezes tempo, nomeadamente em complexos ambientes de desalavancagem financeira. Mas é fatal ocorrer. Esta nova confiança que se gera é genuína e decorre do trabalho individual de cada um (não se decreta). Por isso é sólida e duradoura quando surge. Demora anos a ser alcançada. Estamos ainda na fase de “ajustamento”, individualmente ainda não sentimos a “Confiança”, mas isso é normal pois o nível de simbiose alcançado entre os nossos comportamentos individuais e a realidade não é ainda total. O comportamento muda ao aproximar-se da realidade, mas esta é ainda volúvel, pelo que no decorrer desta dinâmica ainda vão surjindo hiatos. Mas o equilíbrio alcançar-se-á, a bem ou a mal. Estamos ainda nesta fase, a da busca da realidade e da procura de que nível de ajustamento individual há que ser feito. É a fase das contas e das opções. Depois, daqui a anos, talvez 2 ou 4, virá a confiança*.

Quando a confiança surgir não será de forma fulgurante, antes será tímida, embora duradoura. E para a história ficará a lição de que deveremos fazer sempre contas, muitas contas, e também tomar opções, pois isso é o normal na natureza económica em que nos movemos. Ou não fossem os recursos escassos por definição.
* Portugal, por ter outra crise, estrutural, muito sua, o processo será mais lento

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