Quinta-feira, 12 de Novembro de 2009
Esta enorme crise começa a evidenciar o que muitos economistas e outros observadores já há muito vinham enunciando: a aproximação dos países emergentes relativamente aos países mais desenvolvidos. Agora que a economia se restabelece e começa lentamente (e vai ser muito lento) a sair da crise é já visível que são os países asiáticos e o Brasil os que mais rapidamente vão crescer no futuro próximo.
Esses países têm muito em comum: andam historicamente a produzir mais do que consomem. Os países mais desenvolvidos, bem habituados nos últimos 30 anos a consumir mais do que produzem, ainda aspiram alcançar o quadro antes da crise: viver à conta dos países emergentes graças aos mecanismos de alavancagem financeira que os países desenvolvidos inventaram. Ora isso não irá acontecer pois a economia tem esse mau hábito de se equilibrar e de o mundo não estar muito inclinado em ter mais experiências de alavancagens financeiras.
Assim, e a prazo, veremos inexoravelmente os países emergentes ganharem um protagonismo muito acima do que o vulgar cidadão pode esperar. Esse protagonismo advém dos contínuos excedentes comerciais*. E isso vai chocar o cidadão comum do Ocidente, para quem, o mundo até à crise estava muito bem montado: Nós, ocidentais, pedíamos dinheiro emprestado aos emergentes para lhes comprar o que eles produziam. A nós competia-nos dizer o que queríamos, com que design, e organizar e montar toda a engrenagem das transferências financeiras, tudo assuntos bem mais interessantes, palacianos, limpos e estéticos do que o shop-floor de uma linha de montagem.
Qualquer crise, com todo o rasto de insegurança, medo, desemprego, etc, que traz consigo, tem o mérito de corrigir muitos dos excessos que conduziram à própria crise. E o cenário pós-crise é sempre novo e diferente.
Com humildade saibamos conviver neste novo cenário.
* Não esquecer o sentimento veiculado pelo presidente Lula sobre os senhores do FMI que aterravam em Brasília e ditavam unilateralmente as regras nos anos 70. Nesta altura o Brasil só apresentava déficits. No primeiro G20 em que participou o presidente Lula vincou que se apresentava lá com cara de excedente, e que olharia para os ocidentais como devedores
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