quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Imigrantes, RSI e suas consequências

DOMINGO, 1 DE AGOSTO DE 2010

À semelhança de outros anos a zona de Aljezur tem demonstrado ser suficientemente atraente para alguns imigrantes do leste europeu. Seja na limpeza de piscinas privadas, nas caixas das mercearias e supermercados, nos restaurantes, por lá andam os romenos e búlgaros (pelo menos) de sorriso na cara a fazerem os trabalhos que muitos Portugueses não quiseram fazer. Sempre que meto conversa com esses imigrantes denoto, geralmente, alegria e simpatia. Se são Portugueses o nível de simpatia é claramente inferior, embora existam sempre excepções.

O Português pensou que o mundo tinha decretado que ele ia ser servido eternamente, e claro, jamais pensou que iria ter de servir. Agora o Português anda macambúzio e revoltado. Vai ter de servir e trabalhar por um valor mais baixo naquelas actividades que desdenhava e que considerava não estar à altura do seu status. Apanhado na esquina por essa coisa poderosíssima chamada “realidade”, sofre agora beliscadelas incómodas por nem sequer estar à altura de ocupar essas actividades que ele considerava menores. É que servir bem implica disponibilidade de espírito, sorriso aberto e franco, modéstia, e pouca apetência para preocupações sobre o que os outros pensam de nós.

O RSI, pela sua massificação, tratou de passar o pior sinal possível, no pior dos momentos, aos Portugueses. O problema não é o RSI em si, que outrora tinha o patético e pouco aconselhável nome de Rendimento Mínimo Garantido. O problema foi a sua massificação, desvirtuando a sua lógica e passando o sinal de que para servir nas actividades de menor valor acrescentado cá estariam uns simpáticos seres vivos vindos de leste (muitos deles de canudo às costas). Em vez de treinarmos os beneficiários do RMG na arte de servir e de trabalhar, e de os “apertarmos” a ter de aceitar os trabalhos que existem e não os que se querem, treinámo-los a viverem eternamente à conta dos outros.

Agora sofremos as consequências dos erros do passado e produzimos dois grandes segmentos de pessoas para ficarem a cargo dos contribuintes:

1. Muitas pessoas válidas que embora queiram trabalhar nas actividades que desdenhavam, não o conseguem fazer por revolta e por falta de sorriso franco na cara.

2. Muitas pessoas sem habilidade para trabalhar seja lá no que for.

Agora que o dinheiro é escasso e que já não nos podemos endividar mais, não nos espantemos que uma pequena revolução social entre em curso.

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