quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O que se segue depois dos "Acordas" e "Fotografias"

TERÇA-FEIRA, 26 DE JANEIRO DE 2010

Para quem tem seguido este blog já provavelmente notou que tenho feito algumas análises sobre Portugal. Tem sido minha intenção reflectir sobre o nosso País dos dias de hoje, como eu o vejo (as “Fotografias”) e como muitos o não vêm (os “Acordas”). Estou ciente que as pessoas tendem exagerar na importância do momento histórico em que vivem, sobrevalorizando invariavelmente os perigos e riscos, e subvalorizando os sucessos e a força do País. Tentei ao máximo extirpar esta tendência das minhas análises para tirar o retrato de Portugal.

Não tem sido minha intenção produzir algo completo que abarque todos os domínios da vivência da nossa querida Nação Portuguesa. Não tenho, nem terei, sequer a ciência e o engenho para sonhar com tamanho empreendimento. Limitei-me a uma visão economicista, esse defeito muito em voga e com origem na minha curta formação académica. Assim, sai uma leitura um pouco enviesada. Enviesada mas com um consolo: sem resolvermos a nossa viabilidade económico-financeira não resolvemos muito do que há para resolver. Vitória pouco nobre de uma ciência menor.

Terminada esta fase, e como não podia deixar de ser, sinto-me forçado interiormente a avançar para as soluções. Seguirei a mesma lógica (Solução 1, 2, 3, etc.). Evitarei ao máximo cair em tecnicismos. Por duas razões: não é aconselhável fazê-lo em matérias de política global de um país, e porque não possuo informação detalhada. Sobre este último ponto direi mesmo que em Portugal abundam pessoas com capacidade técnica e com informação mais do que suficiente para elaborar excelentes estudos. Por este lado estamos bem servidos. A falha está toda do lado do decisor político, decisor que tem sido sistematicamente falho em cumprir com os mínimos que se exigem a quem representa o governo da Nação Portuguesa, ou mesmo de qualquer nação que se digne ser uma referência entre as nações. O que, aliás, neste momento não surpreenderá, nem mesmo ao mais distraído dos cidadãos. Entre a suprema lealdade à agenda própria e do grupo político a que se pertence, e ao atento jogo político ditado pelos calendários eleitorais, muito pouco sobra para dedicação a Portugal.

As soluções para os problemas são, por definição, sempre conflituantes para com os actores em cena. O que se passa ao nível do indivíduo quando este tem que tratar de assuntos que lhe são problemáticos, passa-se também ao nível de qualquer organização e ao nível de um país. As soluções fazem parte do processo de ajustamento contínuo que se faz entre o eu/nós e o meio ambiente. A relação simbiótica entre o eu/nós e o meio ambiente facilita o processo de mudança porque o encara como o estado natural das coisas. Quando não existe simbiose a mudança ocorrerá fatalmente a prazo por coerção externa, e quase sempre de uma forma dolorosa. Uma parte de Portugal está em simbiose com o mundo, mas a maioria está completamente dessincronizada com o mesmo. E esta parte de Portugal é maior do que pensamos.

Tenho noção de que muito do que irei expor nos próximos não colherá imediata simpatia e só com alguma dificuldade merecerá concordância geral. Esse é o preço a pagar pelo afastamento da realidade em que temos vivido. Mas mensagens doces e ao gosto do destinatário são para o diletante e para o governante fraco. As nações fortes não se podem compadecer com estas almas que mais não fazem do que enfraquecer e tolher um povo. Não sei ainda que caminho Portugal e os Portugueses querem seguir, mas sei bem que caminho escolhido quero que os meus descendentes Lusitanos estudem daqui a muitos anos. Arrepia-me pensar que talvez possa pertencer a uma geração fraca governada por gente fraca, onde um consolo pífio e degradante juntou um e outro no caminho para a decadência. Dos fracos não reza a história, e não vejo nada de racional ou de emotivo para não tomar o Português como um forte entre os mais fortes.

Neste particular considero vil e altamente pernicioso ver pessoas em lugares de responsabilidade serem incapazes de cumprir com as responsabilidades que lhes são exigidas. Isto não toca só ao decisor político. Outras forças, como os partidos, sindicatos, confederações empresariais, classes profissionais, etc, são incapazes, no geral, de pensar para além das fronteiras daquilo que julgam estar a defender. Esta incapacidade vai muito para além dos limites tomados como razoável. Não me enganarei se disser que existirá muita insanidade em vigor. E tomo como verdadeiro que um país não pode estar entregue aos dislates de meia dúzia de inconscientes atestados de agendas inviáveis.

Faço fé na Democracia como o melhor modelo de governação de um país. Embora não seja politicamente correcto dizê-lo, ou pelo menos expressar a dúvida, temo que isso não seja verdade para todos os povos. Até já houve quem considerasse a Democracia não recomendável para os povos meridionais, nomeadamente Portugal. Não penso que isto seja verdade. Portugal pode e deve ter Democracia. Mas deve muito mais do que a ter. Deve vivê-la e servir-se dela para si. E para isso precisa de viver em verdade e não em ilusão. A verdade anda ao serviço dos fortes e a ilusão ajusta-se bem aos fracos.

Por isso penso ser perfeitamente viável um diálogo de verdade entre o decisor político e todos os cidadãos. Não existe, nem existirá, nenhuma alma que me convença que escritos enleantes e retórica decorada segundo os padrões do momento pode eternamente marcar o ritmo. Isso fez doutrina mas tem estado a acabar aos poucos e de forma muito subtil. Só não percebe este novo virar de página quem está ainda no antigamente julgando-se estar na crista da onda. A verdade vai tomar o seu lugar, não como a redenção esperada de quem andou pelas trevas, mas simplesmente porque as pessoas querem cada vez mais, e de forma genuína, falar numa base verdadeira. Ou não fosse isso o resultado de tanta ilusão acumulada.

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