quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Perguntas no ar

TERÇA-FEIRA, 13 DE JULHO DE 2010

Porque é que o BES alinhou pela venda da Vivo?

Provavelmente porque o acordo de Basileia III vai requerer maior esforço de capitais próprios e nos dias de hoje não está fácil aumentar o capital. Provavelmente porque lhe daria uma entrada de capital muito significativa numa altura em que não está nada fácil de obter financiamento externo para financiar a actividade corrente. Neste momento é o BCE que anda a refinanciar directamente a banca portuguesa. Provavelmente, e adicionalmente, porque o preço acabou por ser considerado bom, o que, é algo sempre importante. Parece que a decisão de venda tinha racional económico.

Porque é que Ricardo Salgado após a decisão do Estado reiteradamente se manifestou tão desagradado? Nada típico no seu perfil.

Porque provavelmente vai ter menos capacidade negocial para subir o preço numa eventual OPA sobre a PT. Ou seja, correndo o tempo a desfavor de Portugal por expor as suas debilidades de financiamento, daqui a uns meses o jogo será um “tudo ou nada”. É que no figurino de vender a VIVO ainda sobrava espaço para outras veleidades no Brasil, como na falada Oi. Vendendo a PT acabam-se as veleidades. Ou seja, a venda da VIVO significaria o encaixe de uma excelente quantia (tão, mas tão necessária neste momento) com a possibilidade de ficar ainda com um activo de potencial. Com a venda da PT não há encaixe no curto prazo e o preço não será nunca tão excelente por fraca posição negocial. E é o adeus em participar em grande no sector das telecomunicações.

Porque é que a Ongoing alinhou pela venda da Vivo?

Provavelmente porque há que amortizar passivo por alguma pressão do BES pois provavelmente esse passivo será detido pelo BES. E continuaria a jogar o campeonato das telecomunicações. Parece que a decisão de venda tinha racional económico. O BES, para além do encaixe da venda da VIVO, ainda veria entrar mais algum dinheiro através da amortização da dívida da Ongoing.

Porque é que o aviso de Sócrates não foi tido em consideração?

Bom, isso é um mistério. Provavelmente porque o BES sobre estimou o seu poder soft (historicamente o BES “sabe fazer as coisas”). Pensado que pelo facto de estar numa posição privilegiada para perceber as dificuldades de financiamento corrente de Portugal a sua posição de venda sinalizaria ao governo de que esta seria a melhor opção para o País. O BES pensa, e se calhar com alguma dose de razão, que o que julga ser bom para o BES é bom para o País.

Ainda assim a decisão do Governo terá sido a correcta?

Pois eu acho que sim. O racional económico não pode ser despótico com o racional político. E este impôs-se. Espera-se agora que o poder político dê sinais de facilitação de modo a viabilizar soluções negociadas (tudo indica que sim). E não, não espero que o nosso poder político inicie o processo de desbloqueio de acordo com o sugerido por Ricardo Salgado. Nestes casos é o poder económico que se deve dirigir ao poder político e não o seu inverso. Penso que Ricardo Salgado ao manifestar esse intuito denunciou em demasia as dificuldades correntes que a banca portuguesa encontra em se financiar lá fora. E isso para quem está na posição de vendedor retira algum poder negocial. Mas enfim, todos cometem erros.

Sai Sócrates reforçado?

Para nossa infelicidade Sócrates sai politicamente reforçado. E o mais provável é receber brinde daqui a uns tempos porque o processo tenderá a arrastar-se. O PSD deu um valente tiro no pé ao não se colocar junto a Sócrates a 100%. É que o homem parece que tomou finalmente uma boa decisão. Custou, mas foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário