SÁBADO, 29 DE MAIO DE 2010
Esta crise acelerou a velocidade da mudança em Portugal. Qualquer crise tem o condão de remexer com convicções consideradas intocáveis. Na bonança pouca coisa é colocada em causa, mas em épocas de crise a realidade é questionada. Nesta perspectiva a crise internacional só veio acelerar a nossa crise e com isso precipitar a mudança. O problema que tínhamos antes da crise financeira internacional eclodir consistia na eterna esperança de que o antigo modelo de acumulação de dívida era viável.
A crise financeira internacional interrompeu o TGV e o NAL, bem como outros dislates megalómanos. Aos mais receosos direi que não irá haver nada disso, e que o tempo demonstrará que nada disso é necessário. A realidade é de uma força que surpreende mesmo os mais avisados. Como que de repente, é bom ver neste momento os banqueiros mais preocupados em financiar o essencial de uma economia: as PMEs e o crédito à habitação (as grandes empresas sempre podem ter outros meios de financiamento interno, e mesmo podem-se socorrer de financiamento externo). Isto é mudança, embora invisível.
Já vou recolhendo sinais de que há pessoas que consideram aceitar trabalhos que anteriormente recusariam. Já vou detectando que as pessoas aceitam o aumento dos impostos com naturalidade. Pena que o governo não tenha percebido que as pessoas aceitariam um aumento do IVA para 25%, ou preferencialmente, e ao invés, aceitariam reduzir os salários da função pública uns 15%. É a realidade a falar mais forte. Isto é mudança, embora invisível.
As pessoas estão a ficar mais atentas aos deslizes, incompetências, e aldrabices de muitos políticos. Sócrates pagou instantaneamente a sua incompetência e aldrabice. Ele pensa, erradamente, que foi porque teve que dar uma má mensagem aos Portugueses no que respeita ao aumento de impostos. Até neste julgamento fácil ele foi incompetente. Os Portugueses aceitaram bem este aperto mínimo de cinto. O que não aceitaram foram as incongruências de ter dito que Portugal já tinha saído da crise, quando a nossa crise só agora começa a ser evidenciada. O que não aceitaram é que o PM tenha dito que o aumento de impostos estava fora de questão e afinal não estar. O que não aceitaram é ver assinatura precipitada de acordos de grandes obras (TGV e NAL) quando tudo indicava que não iria haver dinheiro disponível (o que está a ser o caso). Uma crise faz-nos estar mais atentos. O actual PM está a prazo.
Quanto aos deslizes tivemos um, e grande, de Cavaco Silva. Incompreensível o argumento que utilizou para não vetar a questão do "casamento" homossexual. O povo revoltou-se muito mais com o argumento do que com o não veto em si, que de si já se impunha. É muito provável que isto venha dificultar a Cavaco Silva a sua reeleição como Presidente da República.
Mas mais do que o rolar de cabeças, tudo isto serve para acordar as pessoas. Já há histórico suficiente desde 1974. E as pessoas estão muito mais atentas, embora não o suficiente, e com isso tratarão de eleger Passos Coelho para PM num destes anos (O CDS vai ter que esperar mais um bocadinho, bocadinho que será um bocadão se se aliar num governo com o PSD).
A emigração está a acelerar de novo e muitos mais imigrantes estão a sair de Portugal. Este efeito combinado, juntamente com a crescente percepção de que não se está a produzir bebés suficientes (perdoem-me a frieza das palavras em matérias que envolvem as funções dos sentimentos), far-nos-á tomar consciência de que estamos a falir demograficamente. Quando percepcionarmos isto em cima das outras percepções, então Portugal mudará mesmo.
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