SEGUNDA-FEIRA, 15 DE MARÇO DE 2010
Portugal, tens que tratar um pouco da questão da tua classe dirigente. Olhando a tua história recente não tens motivos para te gabares te produzires em número apreciável uma classe dirigente exemplar. Esta questão é endémica e anda a fornecer modelos errados às contínuas fornadas de futuros dirigentes que as tuas universidades vêm produzindo. Este facto é confirmado pelas apreciações externas do dirigente médio português por parte dos executivos estrangeiros a trabalhar em Portugal, e pelo facto de o português médio obter níveis de produtividade mais elevados quando se encontra a trabalhar noutros Países.
Desta forma, tens que, onde politicamente for possível, apetrechar as tuas organizações com dirigentes estrangeiros, nomeadamente saxónicos e nórdicos, de modo a dificultar fenómenos de aculturação por parte de quem é convidado a dirigir muitas das nossas organizações. Por não puderes influenciar o que se passa no mundo das empresas privadas, a opção política limitar-se-á às organizações públicas. As posições nas organizações públicas não se deverão resumir somente aos cargos de direcção. Visam, acima de tudo, os cargos de administração.
Portugal, esta solução insólita tem diversas justificações, a saber:
1. Aumentar os níveis de produtividade das tuas organizações públicas.
2. Dotares as tuas organizações públicas de directivas mais humanas no que respeita às cargas de horários de trabalho. Saxónico e nórdico não emite os imbecis comentários do género “já se vai embora” quando chega as 17h ou 18h. São pessoas culturalmente respeitadoras do próximo ao nível organizacional e com pouca apetência para pressões que mais não fazem do que camuflar as deficiências organizacionais de que o dirigente português é, afinal de contas, o maior responsável.
3. Romperes com a lógica de mexerico que grassa no nosso exíguo mercado bem como a cultura de familiaridade que se pensa ser necessário ter quando se anda nas “altas esferas”. É pouco provável com estrangeiros à mistura o estabelecimento de uma cultura do “dar um toque” ou “um jeitinho” no pior sentido que estas ideias contêm. Quanto ao desenrascanço, não te preocupes que nunca o perderás, isso será complementado pelos outros dirigentes Portugueses, pois como imaginas não defendo a remoção total do dirigente Português, quanto mais não seja porque o "desenrasca" será cada vez mais uma virtude. A mescla seguramente promoverá complementaridades e produzirá excelência.
4. Diminuíres em grande escala essa praga do cargo de confiança política o que mais não faz do que criar carreiristas nos partidos políticos.
5. Dotares as tuas organizações públicas de comunicações elaboradas em inglês, e disseminares, sempre que possível, a língua inglesa na tua sociedade.
6. Criares novos modelos de dirigente de sucesso de modo a cortares com o descarrilamento que se verifica no dirigente Português quando este se apercebe “como é que afinal as coisas se fazem”.
Portugal, serve-te da Globalização para proveito dos teus cidadãos. O teu País oferece encantos mais que apelativos para encantar um bom dirigente Holandês, Inglês ou Finlandês. Imagina o desafio que será para essas almas: Estar em lugares de destaque e influência em organizações públicas em Portugal com o intuito de disseminar a cultura organizacional pessoal que lhe corre no sangue. Isto salpicado com o teu clima, amêijoas à Bulhão Pato, um bom queijo Serpa e Golf todo o ano será o suficiente para ter resmas de interessados. E nota que existem nos dias de hoje milhares de dirigentes altamente qualificados que estão no desemprego.
E de modo a te dar algumas orientações, diria que os estrangeiros deverão ocupar, em média, 50% dos cargos mais importantes em questão. Parece exagerado, mas se assim não for comprometes o objectivo da medida. Seriam “comidos” pelas gentes e cultura locais. Literalmente seriam “postos no bolso” pelos que “sabem fazer as coisas”. E já agora digo-te que a CGD e o Banco de Portugal não deverão escapar a esta medida. Talvez até seja onde é mais urgente a irrigação de sangue nórdico e saxónico.
Portugal, não tenhas pena do dirigente Português de topo nem vás em conversas proteccionistas de quem sempre apregoou as últimas dos mercados e suas dinâmicas. Nem em discursos inflamados do “somos tão bons como os melhores”, etc. Isso serão defesas ao status quo que mais não são do que a defesa este estado pantanoso onde quem melhor se governa é quem melhor conhece as duvidosas regras do jogo e “sabe fazer as coisas”. E quando chegar o discurso dos “centros de decisão” lembra-te que os filhos dos imigrantes acabam sempre por ser cidadãos do País acolhedor. Não vais deixar de ser mais Portugal por causa desta medida, pelo contrário, vais ser mais Portugal porque a tua actual e assustadora taxa de fecundidade subirá. Sim, o dirigente estrangeiro perguntará ao trabalhador o que é que ele ainda está a fazer no escritório lá pelas 18h. E não infernizará o pobre trabalhador com ameaças num tom feudalista.
Portugal, como já te disse anteriormente, as soluções para o teu caso terão que ser insólitas. Esta é-o sem dúvida, mas se reparares bem tem muitos fundamentos. Que o receio do insólito não retire de cima da mesa boas opções.
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