quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Do Socialismo caseiro ao pobre Socialismo

SEGUNDA-FEIRA, 29 DE NOVEMBRO DE 2010

Portugal anda singularmente a desbravar novos caminhos no Socialismo. Esta história do emprego para a vida que abunda na função pública anda a tramar a geração mais nova e já começou a consolidar um certo tipo de socialismo lusitano. Carregados de direitos adquiridos, de não puderem ser despedidos, e com vencimentos perfeitamente incompatíveis com o nível de produtividade possuído, a geração que anda na casa do 50 aos 60 anos vê neste momento o modelo por que lutou “entrar-lhe pela casa a dentro”. Ou melhor, não é bem “entrar-lhe pela casa a dentro”, é mais “ficar lá por casa”.

Sim, trata-se dos filhos que agora rondam dos 25 aos 30 anos e que não vislumbram a mínima possibilidade de arranjarem trabalho que lhes permitam viver em casa própria de acordo com os novos standards. Nem mesmo se adoptarem uma “modernice” de irem “ver se dá” com a(o) pequena(o) de ocasião. Licenciados a 600 ou 700 euros / mês e a trabalhar demasiadas horas por semana preferem por certo ficar em casa dos pais. Para quê sair e proceder a downgrades radicais se ficar em casa dos pais significa ter acesso a um bem-estar de que não se quer abdicar e que ainda permite curtir minimamente. Com esta opção estes jovens sempre se vão libertando pelo fim de semana da carga de trabalho a que foram sujeitos durante a semana ao invés de terem que cumprir com todas as tarefas caseiras que uma vida a só ou a dois (seja na versão clássica ou na versão “moderna”) sempre implica. Entre ter prazer e diversão ou ter dores de cabeça com contas e limpezas ao fim de semana o jovem licenciado decide com facilidade.

Assim os progenitores destes jovens licenciados vêm o sistema socialista em que acreditaram, e votaram (PSD incluído, obviamente), assumir uma nova versão: o “socialismo caseiro”. Temos pois uma versão bem lusitana de socialismo, todo ele forrado de coesão inter-geracional de fazer corar de inveja o maior teólogo de engenharia social. Nem um Louçã no seu melhor se lembraria de tamanha façanha social. Assim juntos, os pais vão tendo sempre a oportunidade de apreciar por dentro o modelo social por que optaram, enquanto os filhos, também por dentro, vão descobrindo o que efectivamente é um socialismo consolidado e pejado de coesão inter-geracional e de proximidade familiar, que é como quem diz, bem-estar relativo para a geração que se pôde abotoar e pobreza material e falta de perspectiva para a geração à qual já nem sobrou casaco para sequer sonhar abotoar-se.

Perguntar-se-á, o que vira a seguir? Diria que não é difícil de prognosticar. Daqui a poucos anos o jovem já trintão, e já na casa dos 800 euros / mês, cansado de curtir e com alguns impulsos matrimoniais a beliscarem-lhe os genes, começa a equacionar emigrar se para tanto o seu inglês o deixar. Se o não permitir, ou se lhe faltar o ímpeto e a sua promissora cara-metade jogar no campeonato dos 600 euros / mês, trocará então o já traumático “socialismo caseiro” por um “pobre socialismo”. É que agora a evolução dos termos de troca até já compensarão a escolha pois a “noite” já custa mais e um filme no LCD com a cara-metade até iria bem depois de feita a lida da casa e de ter trucidado um bom bife com alho e arroz branco acompanhado por um Monte Velho.

Nesta fase da vida, e conhecendo bem o Socialismo nas suas múltiplas versões evolutivas, o adulto tardio olha agora com um olhar discernido e sabedor sobre o fabuloso sistema social que Abril produziu, e dirá: disto não quero para o meu filho (o único).

E assim Portugal mudará

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