quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Experiências sobre despedimentos e segurança no trabalho (3)

DOMINGO, 31 DE JULHO DE 2011

Corria o ano de 2006 quando experimentei o sabor de ser chamado para ser despedido num projecto na Holanda. Bem me lembro de ter ficado revoltado, não tanto pela decisão em si, mas por saber que de entre os quatro consultores a disputar os três lugares existentes eu era o mais bem preparado tecnicamente. Dois dos outros três consultores vinham de uma implementação já efectuada o que parece ter pesado na decisão. Por outro lado, o terceiro, por uma razão misteriosa, tinha um poder informal muito grande no cliente. Esse poder era inversamente proporcional à sua competência, que era, digamos, demasiado pequena.

Em paralelo, um dos outros dois consultores estava em negociações para sair do projecto (insatisfação com o mesmo), o que me daria possibilidades de lá continuar no caso de a sua saída ser anunciada antes da decisão de me convidarem a sair. Aconteceu que o consultor que queria sair pretendia, paralelamente, que eu ficasse de modo a compensar a incompetência do incompetente. Mas eu ia-lhe dizendo que nesse caso somente ficaria se fosse aumentado pois considerava uma desfeita o critério utilizado, pelo que, e embora lhe respeitasse o interesse para com o projecto, não podia responder por mim aos seus receios.

Cronologicamente ocorreram os seguintes factos:

1. Um dia fui chamado a uma sala onde me foi dito que já não contavam comigo até ao final do projecto. Aí tive a oportunidade de dizer que de todos era o mais bem preparado para entregar o projecto.

2. Uma semana depois o tal consultor apresentou a sua demissão pedindo-me que eu ficasse no caso de a chefia de projecto pretender reverter a sua decisão de me dispensarem. Disse-lhe que ficaria no projecto se as minhas novas condições fossem aceites.

3. Imediatamente a seguir o chefe de projecto veio ter comigo a dizer que afinal me queria e que eu não me podia ir embora. Nesse momento apresentei as minhas novas condições, o que para meu contentamento foi aceite. Disse ainda que o facto que me fazia ficar no projecto residia no facto de querer acabar o que começara, e disse também que se apresentava novas condições tal prendia-se com o facto de sentir necessidade de refazer a minha abalada auto estima.

Uns meses depois, no final do projecto, indaguei junto do chefe de projecto o motivo da minha escolha como sendo o consultor a ser dispensado. O chefe de projecto disse-me que, embora já soubesse que eu estava muito mais bem preparado que o tal incompetente, o mesmo tinha uma grande influência junto do cliente, e que isso fora fundamental para a sua decisão, ainda que confessasse que se fosse hoje teria tomado outra decisão (aconteceu que esse consultor trouxe bastantes problemas). E que ele próprio me recomendaria para futuros projectos (curiosamente isso voltou a acontecer para um projecto na Suiça).

Das lições que aprendi retive as seguintes: Nem sempre a competência é tida em consideração. Pelo menos na área das tecnologias de informação onde os clientes, por deficiente conhecimento, não detêm muitas ferramentas de aferir quais os mais capazes (ainda que nem sempre a competência técnica seja tudo). Por outro lado aprendi que a franqueza nos julgamentos sobre nós, os outros, e um dado cenário é recompensadora a prazo. E aprendi ainda que perante um volte face negocial é compensador manter o mesmo discurso, manter o comprometimento com o inicialmente acordado (no caso, levar o projecto até ao fim), e ainda manter muita frieza e calculismo.

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