quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Os números por vezes são traiçoeiros

SEGUNDA-FEIRA, 10 DE JANEIRO DE 2011

Hoje veio a público que ocorreram mais nascimentos em 2010 do que em 2009. Parece que muito boa alma ficou surpreendida pois a dita crise deveria ditar algum cuidado com a procriação. Acontece que a realidade não se compadece com alguns simplismos. Sim, ouve a crise financeira internacional que estalou no Verão de 2007 e que está muito razoavelmente domada, e existe a nossa crise que já vem desde 2000 (eu acho que vem desde 1995) e que a crise internacional tratou de a evidenciar e acelerar.

Acontece que a demografia não terá uma correlação = 1 com os devaneios da economia. Por vezes até pode ter alguns sobressaltos, como este que agora se deu. Especularei que muitos novos casais assustaram-se em 2007 e 2008 retardando a sua decisão de ter filhos. Após a contenção inicial, e porque as inolvidáveis funções dos mais puros sentimentos não puderam ser contidos, eis que se libertaram em 2009 de modo a materializarem os nascimentos de 2010. O belo desejo de ter filhos não é escravo a 100% das perspectivas económicas do casal. Estas podem condicionar decisões de curto prazo, mas cedo ou tarde o desejo fala mais alto e impõem-se. Terá sido o que aconteceu.

Infelizmente, é provável que já em 2011 e anos seguintes os nascimentos caiam de novo. Em 2010 os Portugueses perceberam que há de facto uma grande crise, a nossa crise, e provavelmente optaram por outra contenção. Assim sendo, é provável que o número de nascimentos siga uma linha parecida com o formato de um serrote. Tudo indica que terá uma tendência decrescente. Eu espero que não.

Ainda a este propósito de fenómenos de contenção, vale a pena pensar no exemplo da venda de automóveis, que parece ter sobressaltado o meu ilustre companheiro de blog. O mesmo ter-se-á passado neste caso. Em 2008 e 2009 muitas pessoas contiveram-se na compra de automóveis e “libertaram-se” em 2010. Muito provavelmente em 2011 e seguintes a trajectória descendente é retomada.

A este propósito recordo ainda outra questão, e que tem que ver com percentagens. Nestas alturas de grandes variações, as percentagens podem atraiçoar os mais incautos, especialmente quando acompanhadas por medias de fraca qualidade. Se um determinado indicador num ano descer 50% e no ano seguinte subir 50%, isso quer dizer que do ano de início até ao segundo ano a descida foi de 25%. No entanto os media adoram “estrondos” do género “Crise? Qual crise? As vendas da Porsche e da Jaguar registam um crescimento acima dos 50%”.

Diria que estes movimentos correctivos são solavancos típicos de transformações repentinas.

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