quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Inconsciência ou loucura?

DOMINGO, 16 DE JANEIRO DE 2011

Colocou-se esta semana uma emissão de dívida a 10 anos a uma taxa de juro de 6,7%. O (des)governo de Portugal exultou com o facto e parte da Europa ficou aliviada. Perguntarei: o que há para exultar e o que há para nos sentirmos aliviados? A resposta é simples: nada. Aliás, neste momento a pergunta que se deve colocar é se quem se manifesta dessa forma está inconsciente ou louco.

Um tal de Krugman que ecoa nos EUA, e que é voz a não desprezar, afirmou que a taxa conseguida no leilão “é pouco menos que ruinosa”. Do lado de cá do Atlântico o Sr. Almunia defendeu a “honra” da velha Europa vindo a terreiro dizer que o Sr. Krugman é bom a opinar para os EUA mas que da Europa percebe pouco. A qualidade do argumento defensivo parece-me que só reflecte a veracidade da análise do Sr. Krugman.

É preciso termos bem noção que quem nos governa não está em condições de sanidade mental para nos continuar a governar. Não, não é nenhuma força de expressão nem figura de estilo. É exactamente isso.

Se um chefe de família ganha por ano 100 e anda a gastar 110, tem dívidas acumuladas de 250, vai renovando pedaços da sua dívida a taxas da ordem dos 6 a 7%, vai passar a ganhar 99 para o ano e sem muitas esperanças de vir a ganhar muito mais nos anos seguintes, e anda todo contente por conseguir renovar os pedaços de dívida a essas taxas, então direi que é um chefe de família tonto e perdido. É preciso interiorizarmos que se está a viver um cenário surreal.

Ainda sobre o exemplo do parágrafo acima, sabemos que o número de horas disponíveis para trabalhar desse chefe de família no futuro vai ser cada vez menor (o equivalente ao decréscimo da população), ou seja, para manter o mesmo rendimento tem que aumentar a sua produtividade, o que implica o aumento da sua capacidade de trabalho por unidade de tempo. Como esta está estagnada há muito e não há indícios de que venha a subir no médio prazo, então o chefe de família está completamente limitado quanto ao seu rendimento.

Ao chefe de família restam então duas opções: ou continua na senda do nevoeiro que assentou na sua cabeça e trama à séria o próximo chefe de família (os filhos), ou então assume a realidade e começa de imediato a amortizar dívida com o consequente decréscimo da porção de dinheiro que fica disponível para si.

O chefe de família de serviço só conhece a primeira opção. O que lhe vai substituir talvez perceba que a segunda é a melhor opção mas pertence a uma família política que não está nem aí.

Portugueses, percebam bem, estamos no reino da inconsciência ou da loucura. Garanto-vos, é uma das duas opções.

Por favor estejam atentos e preparem-se para intervir.

Nota: e daqui a uns anos vêm umas facturas especiais de umas PPP (parcerias público privadas). Autênticas bombas relógios já a funcionar...

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