quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Portugal, acorda (1)

Portugal, olha bem para as famílias de hoje. Vede como elas não se entusiasmam em ter muitos filhos. Ficam-se por um ou dois, não mais (taxa de fecundidade de 1,3). Portugal poderás perder até 3.000.000 de pessoas no ano de 2050 para os cenários mais pessimistas (pelas taxas de fecundidade de hoje, este já é o cenário mais provável). Como lidarás com isso psicologicamente? E economicamente? Portugal, lembra-te que se quiseres inverter esse cenário isso terá que ser feito agora?

Portugal, faz tudo o que te for possível para que a taxa de fecundidade suba. Apoia a família. E não é só com benefícios em sede de IRS (mas também). Olha bem o que a apoquenta e o que está na base neste pequeno 1,3. Trata bem das mulheres no pós parto. Arranja formas de as reintegrar bem no mercado de trabalho. É difícil. Sabemos isso. Porque há muito empregador malvado, há muito chefe obtuso. Vai copiando com alegria, tanto quanto se pode copiar, os países que voltaram a ter taxas crescentes de fecundidade. Já há histórico, e recente. Joga com isso. Atira-te mesmo com fulgor.

Olha Portugal, e já agora, pensaste tu bem na evolução da tua produtividade? Já pensaste no que fazer para manter daqui a uns anos o mesmo nível de produção por habitante? É que terás proporcionalmente muito menos pessoas a produzir? Ui, como isso pode doer. E quem vai tratar de todos esses idosos? Queres uma significativa parte da população activa a trabalhar no cuidado dos idosos? O quê, aqueles que tu andas a ensinar a gastar mais do que produzem? E a que preço? Sabes o que acontece aos preços quando há muito mais procura do que oferta? Qual a percentagem da reforma a afectar ao cuidado prestado por terceiros? O quê, não chega sequer! Ai, ai. Ai, que nem muitos filhos há para cuidarem de mim. E logo o que há vive tão longe.

Cuidado Portugal. Podes ainda deparar-te com outras surpresas. E bem bizarrras e exóticas aos olhos de 2009. Talvez os velhos de 2040 comecem a ir reformar-se para locais recônditos do Brasil ou de Moçambique, e até Uruguai (sim, o português é por lá obrigatório a partir do sexto ano). É lírico, não é? Mas eu aos 44 anos já penso nisso. Nessas terras a pequenina reforma vai dar e sobrar e não vai faltar quem me queira cuidar (é que nascem tantos). Portugal, depois não te queixes se perderes mais 1.000.000 de pessoas em cima dos 3.000.000.

Portugal, por favor, pensa bem. Eu sei que andas numa de “fracturas”. Por isso me lembrei de ti e de te vir com esta. Já viste, é uma “fractura” das grandes. Maior não encontras. Penso até que para a enfrentares com sucesso deverás parquear as outras. Vacilas na opção da “fractura” que queres escolher? Estás na dúvida? Portugal amigo, Portugal do coração, Portugal da razão. Vai por esta. Nem assim? Olha Portugal, escolhe mesmo esta porque é a que te vai ao bolso daqui a uns tempos. Boa Portugal, obrigado pela decisão. Eu sabia que, independentemente do argumento, optarias bem.

Um grande bem haja para ti Portugal

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